Antifluffy é o primo pop de Autodigest, ambos dedicados à indagação da cultura contemporânea do entretenimento e dos labirintos paradoxais do consumismo tardio. Ao passo que Autodigest opta por vias mais cerebrais ou estratégicas, Antifluffy vai mais pelo funk, pelas vísceras na face da fofura. Uma presença totémica, Antifluffy adopta semblantes quase-humanóides, mas nunca verdadeiramente: trata-se de um modo de despertar intuição na cognição e fertilidade na percepção.

Seja no eviscerar de fita magnética ou de fotos analógicas, no declamar de manifestos inflamados ou no grunhir de baladas mastigadas em palco, Antifluffy convida à elevação - acima do karaoke derivativo, do re-packaging cíclico de divas autotune intermutáveis, selfies fotoshopados, pseudo-erotismo desinfectado, ou da ingestão forçada da pílula açucarada da ideologia nas entranhas da iHalucinação digital.

O projecto reconhece o labirinto de espelhos que enfrenta: por mais que muita da comunicação contemporânea (neural em essência e motivação) traia uma corrente sinistra na sustentação do êxtase, do mesmo modo as estéticas da resistência são com frequência prontamente neutralizadas e incorporadas no léxico da redução; a manutenção do propósito e da persistência face ao cinismo entranhado das estéticas da fofura tem-se revelado um desafio - particularmente quando estas estéticas parecem conviver tão à vontade com os mesmos canais mediáticos que prevêem, descrevem e dissecam horrores além das palavras.

E é possivelmente este o motivo pelo qual Antifluffy continua a diversificar os seus próprios meios, contextos e incarnações: o nosso estado actual já é de sobressalto, o mínimo que podemos fazer é usar essa volatilidade no acto criador.

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