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Cortada+ Yung Xalana
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Se o caos só gera caos, era inevitável que a Lisboa de agora parisse uma banda assim, caótica, com pressa de sentir e urgência de fazer — não vá a cidade expulsá-la. Eis os Cortada, a crescer para a idade adulta com o seu primeiro álbum, depois de um EP de estreia, homónimo, em 2024.
Uma banda sempre em excesso de velocidade: uma rajada de noise-punk que atropela o tédio e carrega o fardo desse caminho que nunca chega a lado nenhum. Não obstante, Pedro Almeida (ou Dusmond, voz e guitarra), Daniel Fonseca (outrora membro da banda de Vaiapraia e de MEIA/FÉ, segunda voz e guitarra), Lourenço Abecasis (de MEIA/FÉ e YUNG XALANA , no baixo) e Bernardo Pereira (de Mordo Mia, na bateria) nunca param de correr.
Gānbēi ( 干杯 ) é um disco graúdo mas revoltado, onde a guitarra não pára de uivar e o baixo tem muito para dizer. Riffs de puxar os cabelos, a bateria ora contida ora furiosa, e a voz de Pedro Almeida irónica e chateada, sempre pronta para ferrar os dentes nas feridas. É difícil explicar como é que um pontapé nos tomates pode dar vontade de dar cabeçadas na parede, mas os Cortada conseguem fazê-lo. Como sabe quem os viu — e vai ver — ao vivo.
Das ruínas de MEIA/FÉ, Yung Xalana emerge, costurado a escombros e vómitos de madrugada. Se por um lado cresce a partir da destruição, por outro sedimenta-se pelas suas fracturas. Numa simbiose constante entre a catarse e a implosão, Xalana revela-se no quotidiano emocional comum, do pouco que resta, a expressão do ser consciente. A 1 de abril, "p4ss4r m4l" despedaçou-se num grito sem eco contra a banalidade de um quotidiano amarfanhado. E a 1 de maio, "RIP XALANA" torna-se no epitáfio, o corte final que o afunda sem boia, porque até os deuses morrem e a nostalgia é um luxo que só alguns podem pagar.
Uma provocação sem objectivo evidente, desafiando os conformismos e expondo as mágoas de uma vida comum. Como tantas.
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